ACÇÕES
RISCO SISTEMÁTICO VERSUS RISCO ESPECÍFICO
No âmbito da construção de uma carteira de investimento diversificada, em termos genéricos, a um maior risco deverá corresponder uma rendibilidade esperada superior. O nível de risco da carteira pode, por sua vez, ser decomposto em dois tipos: risco sistemático e risco não-sistemático, ou específico. Este último não deverá ser especialmente importante para o investidor no sentido em que pode ser eliminado através de uma carteira bem diversificada. Assim, o investidor não deverá requerer uma maior rendibilidade esperada por possuir risco específico. Pelo contrário, o risco sistemático não pode ser diversificado, derivando da correlação entre as rendibilidades dos activos individuais e a rendibilidade do mercado como um todo. Pelo risco sistemático o investidor deverá exigir uma rendibilidade esperada superior. O acréscimo de rendibilidade esperada é, na literatura financeira, estimado pelo Capital Asset Pricing Model e, mais especificamente, pelo parâmetro Beta (β).
Um beta igual a zero significa que a rendibilidade do activo não é correlacionada de todo com a do mercado. Um beta positivo significa que, em termos médios, a rendibilidade do activo acompanha a do mercado. E, por fim, um beta negativo revela que, historicamente, a rendibilidade do activo evolui no sentido oposto da do mercado. O valor do beta é estimado com recurso ao modelo estatístico de regressão linear, correspondendo à inclinação da "recta de regressão". Por exemplo, o beta da EDP - Energias de Portugal SA (EDP) relativamente ao índice PSI-20, no período de Janeiro de 2016 a Março de 2017, é igual a 1,02. Este valor significa que quando o PSI-20 sobe (ou desce) 1%, a EDP sobe (ou desce) 1,02%, afirmando-se que tem praticamente o mesmo "risco" que o mercado.
ANÁLISE DE REGRESSÃO LINEAR ENTRE A EDP E O PSI-20 (JAN-16 A MAR-17)
Fonte: Bloomberg, Banco Invest
A análise do beta dos activos, nomeadamente das acções, é, pois, fundamental para se aferir e gerir o risco de mercado de um determinada carteira de investimento. Com efeito, quando o investidor tem a expectativa de uma subida do mercado accionista terá todo o interesse em deter acções com beta superior a 1. Pelo contrário, quando a expectativa é de queda do mercado, deverá reduzir-se o beta da carteira, detendo títulos com beta inferior a 1.
BETA DAS ACÇÕES DO PSI-20, ENTRE JANEIRO DE 2016 E MARÇO DE 2017
Fonte: Bloomberg, Banco Invest
Para ilustrar o mecanismo de gestão do beta, atente-se ao seguinte exemplo. Considere-se um investidor que detém uma carteira diversificada de acções nacionais, no valor de Eur 250.000. O beta médio da carteira é 1,2 e o investidor, após uma forte subida do mercado, deseja proteger (tacticamente) a carteira contra uma correcção técnica, diminuindo o beta para 0,75. Visto tratar-se de um investimento de médio-longo prazo e que o investidor acredita que as acções em causa se encontram subavaliadas, uma alternativa de reduzir a exposição ao risco de mercado sem vender as acções, é através de futuros, neste caso, sobre o índice PSI-20. Sendo o valor de cada ponto dos contratos sobre o PSI-20 igual a Eur 1 e transaccionando o contrato mais próximo de vencimento (mais líquido) cotado nos 4.700 pontos, o número de contratos que o investidor teria de vender seriam
24 contratos.
Caso o objectivo fosse a cobertura integral do risco sistemático da carteira, o investidor deveria vender 64 contratos de futuros sobre o PSI-20.