Um dos instrumentos fundamentais no processo de Alocação de Activos consiste na determinação do prémio de risco para as diferentes classes de activos. No caso concreto dos mercados accionistas, este pode ser representado pela diferença entre a remuneração implícita nas cotações de mercado (calculada a partir dos múltiplos de resultados a que transaccionam as empresas), e as yields das obrigações de dívida pública (remuneração do activo sem risco).
Segundo o modelo de Gordon1 dos dividendos com crescimento constante, o valor do equity de uma empresa é dado por:
Sendo:
P0: o valor por acção no momento 0;
RE: Rendibilidade exigida pelos accionistas;
DIV1: Dividendo para o período seguinte;
G: Taxa de crescimento anual constante dos dividendos.
Esta taxa de crescimento (g), por sua vez, pode ser obtida da seguinte forma:
Sendo: DIV1 / EPS1: Payout da empresa (Dividendo para o período seguinte / Resultado por acção para o período seguinte)
ROE: Return on Equity (Resultado Líquido / Capital Próprio)
Por sua vez,
Assim, substituindo na fórmula de Gordon original, obtém-se:
Assumindo, mais uma vez por simplificação, que o ROE é igual à RE - Damodaran2 - obtém-se a seguinte expressão:
Valor da acção:
Resolvendo a fórmula em ordem a RE, conclui-se que a rendibilidade exigida pelos investidores pode ser obtida, segundo este modelo, pelo inverso do PER (Price Earnings Ratio) a que transaccionam as acções no mercado:
Por fim, subtraindo a yield das obrigações de dívida pública à rendibilidade esperada dos accionistas (RE), obtém-se o prémio de risco implícito nas cotações de mercado:
Sendo:
ERP = Equity Risk Premium
Rf = Yield das obrigações de dívida pública
Concluindo, uma forma prática de apurar o prémio de risco implícito nas cotações do mercado (ERP) consiste em subtrair a taxa de juro sem risco (Rf) à Earnings Yield (1/PER) do mercado. Esta última, obtida através do múltiplo de resultados (PER), equivale à remuneração esperada pelo investidor ao "comprar o mercado" com um determinado PER.
Historicamente, períodos em que os prémios de risco se encontram muito acima da média constituem um bom ponto de entrada, a médio-longo prazo. Pelo contrário, quando os prémios de risco se encontram muito abaixo da média poderá ser uma boa altura de sair do mercado, na medida em que os investidores não estão a ser devidamente remunerados pelo risco assumido, ou pela diminuição dos resultados das empresas ou pela subida acentuada, e não justificada, das respectivas cotações.
Para melhor ilustrar esta relação, atente-se ao exemplo do mercado accionista europeu, medido pelo índice Stoxx Europe 600. Conforme se pode verificar no gráfico abaixo apresentado, o prémio de risco implícito no mercado atingiu um máximo no final de 2008, no período pós-falência do banco Lehman Brothers. A aversão ao risco aumentou de tal forma, traduzida pela queda do mercado não justificada pelos resultados das empresas, que acabou por tornar o mercado "barato" e despoletar a recuperação do mesmo, no inicio de 2009. Pelo contrário, no terceiro trimestre desse ano o mercado tornou-se menos interessante (prémio de risco muito abaixo da média histórica), aconselhando alguma cautela, uma vez que o crescimento dos resultados das empresas não acompanhou a forte subida das cotações. Por fim, à data de redacção deste texto, o prémio de risco aproxima-se novamente do máximo dos últimos cinco anos, sinalizando que o mercado se encontra a níveis interessantes, considerando a rentabilidade das empresas e as respectivas (baixas) cotações em mercado.
Prémio de Risco - Europa (STOXX EUROPE 600)
1. Gordon, Myron. The Investment, Financing, and Valuation of the Corporation. Greenwood Press Reprint, 1982.