FIQUE A PARAcompanhe os destaques e principais tendências do dia que influenciam as bolsas em todo o mundo.
Outlook Análise Técnica Research Investimento Educação
Segurança Alimentar e NutriçãoPorquê investir?16-10-2023  16:30
  • investimento

Segurança Alimentar e Nutrição


Acabar com a fome e a subnutrição é um dos maiores e mais antigos desafios da humanidade. Fazemos três refeições completas por dia? Nem toda a gente o consegue fazer, apesar de ser um direito basilar do ser humano. A segurança alimentar foi definida em 1974, na Cimeira Mundial da Alimentação (i.e. World Food Summit), como “a disponibilidade, em qualquer momento, de oferta mundial adequada de géneros alimentícios de base para sustentar uma expansão constante do consumo alimentar e compensar as flutuações da produção e preços”. Posteriormente em 1996, a mesma Cimeira define segurança alimentar como “quando todas as pessoas, em qualquer momento, têm acesso físico e económico a uma quantidade suficiente de alimentos seguros e nutritivos que satisfaçam as suas necessidades dietéticas e preferências alimentares para uma vida activa e saudável”.

De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), a segurança alimentar abrange quatro dimensões:

DISPONIBILIDADE – a disponibilidade de alimentos diz respeito à oferta e é determinada pelo nível de produção, pelos níveis de stock e pelo comércio líquido;

ACESSO - uma oferta adequada de alimentos, quer a nível nacional ou internacional, não garante por si só segurança alimentar na globalidade dos agregados familiares. A preocupação com o acesso insuficiente aos alimentos deu origem a uma maior preocupação com as políticas nos rendimentos, nas despesas, nos mercados e nos preços;

UTILIZAÇÃO - a ingestão suficiente de energia e nutrientes pelos indivíduos é o resultado de boas práticas de cuidados e práticas alimentares, da preparação dos alimentos, uma dieta diversificada e uma distribuição adequada dos alimentos no seio do agregado familiar em combinação com uma boa utilização biológica dos alimentos;

ESTABILIDADE - estabilidade das três dimensões anteriormente mencionadas. Mesmo que a ingestão de alimentos seja adequada, existe insegurança alimentar se o acesso a alimentos, numa base periódica, for inadequado. Condições meteorológicas adversas, instabilidade política ou factores económicos, são alguns exemplos que poderão trazer significativo impacto na segurança alimentar.


O nível global da prevalência de subnutrição (PoU), que pode ser definido como a percentagem da população cujo consumo alimentar habitual é insuficiente para fornecer os níveis de energia dietética necessários para manter uma vida normal, activa e saudável, entre 2000 e 2010, registou uma considerável queda até 2014 porém, sofreu um aumento significativo entre 2019 e 2021 sob a sombra da Pandemia da COVID-19. No ano de 2022, cerca de 9,2% da população mundial passou fome, um valor superior aos 7,9% pré-pandémicos de 2019. Cerca de 735 milhões de pessoas passaram fome em 2022, um acréscimo de 122 milhões face ao ano de 2019. A situação é mais alarmante em África, onde o PoU é o mais elevado entre todas as regiões, com cerca de 19,7% (282 milhões de pessoas) da população da região subnutrida. Na América Latina e Caraíbas, passou de 7,0% em 2021 para 6,5% (43 milhões de pessoas) em 2022 e na Ásia com uma queda de 0,3 pontos percentuais para os 8,5% (402 milhões de pessoas). Na Oceânia, uma subida de 0,4 pontos percentuais para os 7,0% (3 milhões de pessoas) em 2022 (Figura 1 e Figura 2).



Figura 1 – Divisão de milhões de pessoas, por região, que passam fome no ano de 2022



Fonte: Food and Agriculture Organization (FAO)



Figura 2 – Prevalência de subnutrição por região entre 2005 e 2022



Fonte: Food and Agriculture Organization (FAO), Banco Invest



O mundo ainda se encontra em recuperação da crise pandémica, com a actual agravante das consequências da Guerra na Ucrânia. O impacto da Pandemia provocou uma recessão económica mundial, que pôs fim a três décadas de progresso global na redução da pobreza. O final do ano de 2021 foi marcado pela reabertura da generalidade das economias mundiais porém, os países de rendimento baixo e médio-baixo registaram um ritmo de recuperação mais lento. Em Fevereiro de 2022, numa altura em que o peso da Pandemia começava a diminuir, eclodiu a Guerra na Ucrânia, que envolveu dois grandes produtores mundiais de produtos agrícolas, provocando ondas de choque nos mercados de produtos de base e de energia, enfraquecendo a recuperação de 10 anos e aumentando ainda mais a incerteza quanto à segurança alimentar mundial.



De facto, nos últimos 30 anos, a região do Mar Negro emergiu como um importante fornecedor mundial de cereais e oleaginosas. Actualmente, as exportações da Rússia e da Ucrânia representam cerca de 12% do total de calorias comercializadas no Mundo e os dois países encontram-se entre os cinco principais exportadores mundiais de importantes cereais e oleaginosas tais como o trigo, a cevada, o girassol e o milho (Figura 3). O Norte de África e o Médio Oriente, por exemplo, importam mais de 50% das suas necessidades alimentares destes dois países.



Figura 3 – Quota de produção da Ucrânia e da Rússia no comércio mundial, em 2020, de oleaginosas



Fonte: COMTRADE, International Food Policy Research Institute (IFPRI).
Legenda: Barley – Cevada; Maize – Milho; Sunflower – Girassol; Sunflower Oil – Óleo de Girassol; Wheat – Trigo



A FAO prevê que cerca de 600 milhões de pessoas venham a sofrer de insegurança alimentar em 2030, cerca de 119 milhões de pessoas a mais do que num cenário em que, nem a Pandemia, nem a Guerra na Ucrânia teriam acontecido e cerca de 23 milhões adicionais em comparação com um cenário em que a Guerra na Ucrânia não tenha ocorrido. Contudo, prevêem-se enormes progressos na Ásia até ao ano de 2030, com menos 87 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar face a 2025 e 160 milhões de pessoas face a 2022. Regiões como África, América Latina e Caraíbas não são esperadas registarem progressos significativos (Figura 4).


Figura 4 – Projecções, a nível mundial e por regiões, até 2030, por milhão de indivíduos em situação de insegurança alimentar




Fonte: Food and Agriculture Organization (FAO)



Porquê investir na Segurança Alimentar e Nutrição?

As Nações Unidas (NU) preveem que até 2050 teremos de ter uma produção 60% superior à actual, por forma a alimentar uma população mundial total estimada em 9,3 mil milhões de pessoas. Tal não será possível apenas pela abordagem tradicional na Agricultura sendo que esta, actualmente, fá-lo com o uso insustentável de recursos naturais. É crucial que se embarque numa notória revolução mais verde e ecológica. Actualmente, a forma como produzimos, transformamos, distribuímos e consumimos os nossos alimentos é nociva. A oferta terá dificuldade em acompanhar a procura, uma vez que as terras cultiváveis e os recursos hídricos estão a diminuir a uma velocidade alarmante.


As NU estimam que, aproximadamente um terço de todos os alimentos produzidos no Mundo para consumo humano é desperdiçado anualmente, cerca de 1,3 mil milhões de toneladas, com os países industrializados e os países em desenvolvimento a desperdiçarem aproximadamente as mesmas quantidades de alimentos – respetivamente 670 e 630 milhões de toneladas. Em termos de custo, a segurança alimentar torna-se ainda mais difícil para populações do Sul da Ásia e de África, que gastam mais de 20% do rendimento em despesas alimentares (Figura 5). Tratam-se de desafios sociais e ambientais complexos para os quais não existe uma solução milagrosa.



Figura 5 – Percentagem das despesas de consumo afectas a despesas alimentares da selecção de países



Fonte: United States Department of Agriculture (USDA)



Algumas das soluções mais promissoras, segundo a Pictet Asset Management, podem enquadrar-se em três grandes vectores: exploração agrícola, transformação, distribuição e alimentação. Alguns exemplos:

   ○ A tecnologia aliada à Agricultura (i.e. Agritech) permite melhorar o rendimento das culturas com o uso de menos recursos. Antecipa-se que a indústria agrícola tenha cada vez menor dependência dos fertilizantes (a Rússia e a Ucrânia representam, em conjunto, cerca de 20% das exportações mundiais de fertilizantes azotados e 30% de potássio). A solução poderá passar por explorações agrícolas verticais e da agricultura de precisão. Na sequência da escassez de cereais a criação de gado pode, entretanto, tornar-se mais eficiente, através de melhores diagnósticos e de medidas preventivas de saúde animal;

   ○ Retirar o máximo partido do que já temos, com vista à redução do desperdício, apenas possível com substanciais melhorias logísticas e melhores redes de distribuição. Alguns desses exemplos são as embalagens assépticas e a bio protecção natural;

   ○ Uma questão permanente para os produtores é como tornar os alimentos mais nutritivos, acessíveis e, idealmente, mais sustentáveis. Actualmente, as empresas estão a esforçar-se por desenvolver carne cultivada em laboratório, encontrar alternativas ao leite à base de plantas e melhorar a acessibilidade dos preços, entre outros exemplos. Há também uma forte procura por ingredientes naturais e pela menor dependência do petróleo quando comparados com os sintéticos;

   ○ Produzir localmente é outra solução que traz múltiplas vantagens, tais como um abastecimento mais fiável, a redução de resíduos, uma menor pegada de carbono, melhor rastreabilidade e o alívio da pressão sobre recursos cada vez mais escassos (abastecimento de água doce e terras aráveis);

   ○ Apetência crescente pelos serviços alimentares directos ao consumidor (exemplo são os kits de refeições “da quinta para a mesa”), que podem encurtar as complexas cadeias de abastecimento globais e reduzir o risco de problemas logísticos, contaminação e deterioração.

 

Redigido por:
Gonçalo Ormonde
Invest Gestão de Activos
2023


  • 7
    3
    [us]Bolsas norte-americanas encerram mais cedo pelas 18h00 devido ao feriado "Dia da Independência"
    [mundo]Índice PMI Serviços (Jun): Japão (01h30), China (02h45), Espanha (08h15), Itália (08h45), França (08h50), Alemanha (08h55), Zona Euro (09h00), Reino Unido (09h30) e EUA (14h45)
    [eu]10h00: Índice de Preços ao Produtor (Mai)
    [us]12h00: Discurso de Williams, membro da Fed
    [us]13h15: Emprego ADP (Jun)
    [us]13h30: Balança Comercial (Mai)
    [us]13h30: Pedidos Semanais de Desemprego 
    [us]15h00: Encomendas às Fábricas (Mai)
    [us]15h50: Índice ISM (Jun)
    [us]15h00: Encomendas de Bens Duradouros (Mai)
    [us]15h30: Inventários Semanais de Crude  
    [us]19h00: Minutas da reunião da Reserva Federal 
    [eu]Discursos de vários membros do BCE: Guindos (09h00), Cipollone (10h00), Lane (11h30) e Lagarde (15h15)
     
  • 7
    4
    [us]Bolsas norte-americanas encerradas devido ao feriado do "Dia da Independência"
    [de]07h00: Encomendas às Fábricas (Mai)
    [de]08h30: Índice PMI Construção (Jun)
    [uk]09h00: Vendas de Carros Novos (Jun)
    [uk]09h30: Índice PMI Construção (Jun)
    [eu]12h30: Minutas da reunião do Banco Central Europeu
     
  • 7
    5
    [de]07h00: Produção Industrial (Mai)
    [fr]07h45: Produção Industrial (Mai)
    [fr]07h45: Balança Comercial (Mai)
    [es]08h00: Produção Industrial (Mai)
    [it]09h00: Vendas a Retalho (Mai)
    [eu]10h00: Vendas a Retalho (Mai)
    [us]10h40: Discurso de Williams, membro da Fed
    [us]13h30: Taxa de Desemprego (Jun)
    [us]13h30: Criação de Emprego Não-Agrícola (Jun)
     
  •  

  •  

  •  

Segurança Alimentar e Nutrição

out 16, 2023, 16:30 by DSI Rita Neves
Porquê investir?

Segurança Alimentar e Nutrição


Acabar com a fome e a subnutrição é um dos maiores e mais antigos desafios da humanidade. Fazemos três refeições completas por dia? Nem toda a gente o consegue fazer, apesar de ser um direito basilar do ser humano. A segurança alimentar foi definida em 1974, na Cimeira Mundial da Alimentação (i.e. World Food Summit), como “a disponibilidade, em qualquer momento, de oferta mundial adequada de géneros alimentícios de base para sustentar uma expansão constante do consumo alimentar e compensar as flutuações da produção e preços”. Posteriormente em 1996, a mesma Cimeira define segurança alimentar como “quando todas as pessoas, em qualquer momento, têm acesso físico e económico a uma quantidade suficiente de alimentos seguros e nutritivos que satisfaçam as suas necessidades dietéticas e preferências alimentares para uma vida activa e saudável”.

De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), a segurança alimentar abrange quatro dimensões:

DISPONIBILIDADE – a disponibilidade de alimentos diz respeito à oferta e é determinada pelo nível de produção, pelos níveis de stock e pelo comércio líquido;

ACESSO - uma oferta adequada de alimentos, quer a nível nacional ou internacional, não garante por si só segurança alimentar na globalidade dos agregados familiares. A preocupação com o acesso insuficiente aos alimentos deu origem a uma maior preocupação com as políticas nos rendimentos, nas despesas, nos mercados e nos preços;

UTILIZAÇÃO - a ingestão suficiente de energia e nutrientes pelos indivíduos é o resultado de boas práticas de cuidados e práticas alimentares, da preparação dos alimentos, uma dieta diversificada e uma distribuição adequada dos alimentos no seio do agregado familiar em combinação com uma boa utilização biológica dos alimentos;

ESTABILIDADE - estabilidade das três dimensões anteriormente mencionadas. Mesmo que a ingestão de alimentos seja adequada, existe insegurança alimentar se o acesso a alimentos, numa base periódica, for inadequado. Condições meteorológicas adversas, instabilidade política ou factores económicos, são alguns exemplos que poderão trazer significativo impacto na segurança alimentar.


O nível global da prevalência de subnutrição (PoU), que pode ser definido como a percentagem da população cujo consumo alimentar habitual é insuficiente para fornecer os níveis de energia dietética necessários para manter uma vida normal, activa e saudável, entre 2000 e 2010, registou uma considerável queda até 2014 porém, sofreu um aumento significativo entre 2019 e 2021 sob a sombra da Pandemia da COVID-19. No ano de 2022, cerca de 9,2% da população mundial passou fome, um valor superior aos 7,9% pré-pandémicos de 2019. Cerca de 735 milhões de pessoas passaram fome em 2022, um acréscimo de 122 milhões face ao ano de 2019. A situação é mais alarmante em África, onde o PoU é o mais elevado entre todas as regiões, com cerca de 19,7% (282 milhões de pessoas) da população da região subnutrida. Na América Latina e Caraíbas, passou de 7,0% em 2021 para 6,5% (43 milhões de pessoas) em 2022 e na Ásia com uma queda de 0,3 pontos percentuais para os 8,5% (402 milhões de pessoas). Na Oceânia, uma subida de 0,4 pontos percentuais para os 7,0% (3 milhões de pessoas) em 2022 (Figura 1 e Figura 2).



Figura 1 – Divisão de milhões de pessoas, por região, que passam fome no ano de 2022



Fonte: Food and Agriculture Organization (FAO)



Figura 2 – Prevalência de subnutrição por região entre 2005 e 2022



Fonte: Food and Agriculture Organization (FAO), Banco Invest



O mundo ainda se encontra em recuperação da crise pandémica, com a actual agravante das consequências da Guerra na Ucrânia. O impacto da Pandemia provocou uma recessão económica mundial, que pôs fim a três décadas de progresso global na redução da pobreza. O final do ano de 2021 foi marcado pela reabertura da generalidade das economias mundiais porém, os países de rendimento baixo e médio-baixo registaram um ritmo de recuperação mais lento. Em Fevereiro de 2022, numa altura em que o peso da Pandemia começava a diminuir, eclodiu a Guerra na Ucrânia, que envolveu dois grandes produtores mundiais de produtos agrícolas, provocando ondas de choque nos mercados de produtos de base e de energia, enfraquecendo a recuperação de 10 anos e aumentando ainda mais a incerteza quanto à segurança alimentar mundial.



De facto, nos últimos 30 anos, a região do Mar Negro emergiu como um importante fornecedor mundial de cereais e oleaginosas. Actualmente, as exportações da Rússia e da Ucrânia representam cerca de 12% do total de calorias comercializadas no Mundo e os dois países encontram-se entre os cinco principais exportadores mundiais de importantes cereais e oleaginosas tais como o trigo, a cevada, o girassol e o milho (Figura 3). O Norte de África e o Médio Oriente, por exemplo, importam mais de 50% das suas necessidades alimentares destes dois países.



Figura 3 – Quota de produção da Ucrânia e da Rússia no comércio mundial, em 2020, de oleaginosas



Fonte: COMTRADE, International Food Policy Research Institute (IFPRI).
Legenda: Barley – Cevada; Maize – Milho; Sunflower – Girassol; Sunflower Oil – Óleo de Girassol; Wheat – Trigo



A FAO prevê que cerca de 600 milhões de pessoas venham a sofrer de insegurança alimentar em 2030, cerca de 119 milhões de pessoas a mais do que num cenário em que, nem a Pandemia, nem a Guerra na Ucrânia teriam acontecido e cerca de 23 milhões adicionais em comparação com um cenário em que a Guerra na Ucrânia não tenha ocorrido. Contudo, prevêem-se enormes progressos na Ásia até ao ano de 2030, com menos 87 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar face a 2025 e 160 milhões de pessoas face a 2022. Regiões como África, América Latina e Caraíbas não são esperadas registarem progressos significativos (Figura 4).


Figura 4 – Projecções, a nível mundial e por regiões, até 2030, por milhão de indivíduos em situação de insegurança alimentar




Fonte: Food and Agriculture Organization (FAO)



Porquê investir na Segurança Alimentar e Nutrição?

As Nações Unidas (NU) preveem que até 2050 teremos de ter uma produção 60% superior à actual, por forma a alimentar uma população mundial total estimada em 9,3 mil milhões de pessoas. Tal não será possível apenas pela abordagem tradicional na Agricultura sendo que esta, actualmente, fá-lo com o uso insustentável de recursos naturais. É crucial que se embarque numa notória revolução mais verde e ecológica. Actualmente, a forma como produzimos, transformamos, distribuímos e consumimos os nossos alimentos é nociva. A oferta terá dificuldade em acompanhar a procura, uma vez que as terras cultiváveis e os recursos hídricos estão a diminuir a uma velocidade alarmante.


As NU estimam que, aproximadamente um terço de todos os alimentos produzidos no Mundo para consumo humano é desperdiçado anualmente, cerca de 1,3 mil milhões de toneladas, com os países industrializados e os países em desenvolvimento a desperdiçarem aproximadamente as mesmas quantidades de alimentos – respetivamente 670 e 630 milhões de toneladas. Em termos de custo, a segurança alimentar torna-se ainda mais difícil para populações do Sul da Ásia e de África, que gastam mais de 20% do rendimento em despesas alimentares (Figura 5). Tratam-se de desafios sociais e ambientais complexos para os quais não existe uma solução milagrosa.



Figura 5 – Percentagem das despesas de consumo afectas a despesas alimentares da selecção de países



Fonte: United States Department of Agriculture (USDA)



Algumas das soluções mais promissoras, segundo a Pictet Asset Management, podem enquadrar-se em três grandes vectores: exploração agrícola, transformação, distribuição e alimentação. Alguns exemplos:

   ○ A tecnologia aliada à Agricultura (i.e. Agritech) permite melhorar o rendimento das culturas com o uso de menos recursos. Antecipa-se que a indústria agrícola tenha cada vez menor dependência dos fertilizantes (a Rússia e a Ucrânia representam, em conjunto, cerca de 20% das exportações mundiais de fertilizantes azotados e 30% de potássio). A solução poderá passar por explorações agrícolas verticais e da agricultura de precisão. Na sequência da escassez de cereais a criação de gado pode, entretanto, tornar-se mais eficiente, através de melhores diagnósticos e de medidas preventivas de saúde animal;

   ○ Retirar o máximo partido do que já temos, com vista à redução do desperdício, apenas possível com substanciais melhorias logísticas e melhores redes de distribuição. Alguns desses exemplos são as embalagens assépticas e a bio protecção natural;

   ○ Uma questão permanente para os produtores é como tornar os alimentos mais nutritivos, acessíveis e, idealmente, mais sustentáveis. Actualmente, as empresas estão a esforçar-se por desenvolver carne cultivada em laboratório, encontrar alternativas ao leite à base de plantas e melhorar a acessibilidade dos preços, entre outros exemplos. Há também uma forte procura por ingredientes naturais e pela menor dependência do petróleo quando comparados com os sintéticos;

   ○ Produzir localmente é outra solução que traz múltiplas vantagens, tais como um abastecimento mais fiável, a redução de resíduos, uma menor pegada de carbono, melhor rastreabilidade e o alívio da pressão sobre recursos cada vez mais escassos (abastecimento de água doce e terras aráveis);

   ○ Apetência crescente pelos serviços alimentares directos ao consumidor (exemplo são os kits de refeições “da quinta para a mesa”), que podem encurtar as complexas cadeias de abastecimento globais e reduzir o risco de problemas logísticos, contaminação e deterioração.

 

Redigido por:
Gonçalo Ormonde
Invest Gestão de Activos
2023


ACESSO INVEST ONLINE